A insuficiência pancreática exócrina (IPE) ocorre quando o pâncreas não consegue produzir enzimas digestivas em quantidade suficiente para garantir a digestão e absorção adequadas de nutrientes. Essas enzimas — lipase, amilase e protease — são essenciais para a quebra de gorduras, carboidratos e proteínas durante o processo digestivo.
Principais sintomas
A deficiência enzimática leva à má digestão dos alimentos e, consequentemente, à má absorção de nutrientes. Os sintomas mais comuns incluem:
- Esteatorreia (fezes volumosas, oleosas e de odor forte)
- Diarreia ou evacuações frequentes
- Distensão abdominal, flatulência e desconforto
- Perda de peso não intencional
- Deficiências nutricionais, especialmente de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K)
- Fadiga e sinais de desnutrição
Causas mais comuns
A IPE pode estar associada a diversas condições, entre elas:
- Pancreatite crônica
- Pancreatite aguda recorrente
- Câncer de pâncreas
- Fibrose cística
- Cirurgias pancreáticas ou intestinais
- Diabetes mellitus de longa duração
- Doenças duodenais graves
- Síndromes hipersecretoras
Diagnóstico
O exame mais utilizado na prática clínica é a dosagem de elastase fecal, por ser simples e não invasivo. No entanto, é fundamental observar que:
A coleta deve ser feita em fezes sólidas ou semi-formadas.
Fezes líquidas ou semi-líquidas podem diluir a enzima e gerar resultados falsamente positivos, mascarando a real deficiência.
- Elastase <100 µg/g: diagnóstico altamente sugestivo de IPE
- Elastase entre 100–200 µg/g: resultado intermediário; deve ser correlacionado com quadro clínico
- Elastase >200 µg/g: geralmente exclui IPE
Tratamento
O tratamento da IPE é baseado na terapia de reposição enzimática pancreática (PERT), que consiste na administração de enzimas digestivas em cápsulas tomadas junto às refeições.
- Dose inicial recomendada: 40.000 a 50.000 unidades de lipase por refeição
- Refeições menores devem receber metade dessa dose
- A dose pode ser ajustada conforme a resposta clínica do paciente
Além disso, recomenda-se:
- Evitar dietas com teor muito baixo de gordura (a não ser que haja contraindicação específica)
- Fracionar a alimentação ao longo do dia
- Avaliar e, se necessário, suplementar vitaminas lipossolúveis e minerais
Monitoramento e acompanhamento
O acompanhamento regular é essencial para garantir eficácia do tratamento e prevenir complicações nutricionais. Devem ser monitorados:
- Sintomas gastrointestinais (esteatorreia, distensão, dor)
- Peso corporal e IMC
- Níveis de vitaminas A, D, E e K
- Albumina, pré-albumina e zinco
- Avaliação da densidade óssea (DEXA) inicial e a cada 1 a 2 anos
Considerações finais
A insuficiência pancreática exócrina ainda é subdiagnosticada, especialmente em pacientes com quadros crônicos de diarreia ou perda de peso. O reconhecimento precoce e o tratamento adequado com reposição enzimática podem trazer melhora significativa dos sintomas e da qualidade de vida.
Se você apresenta sintomas persistentes de má digestão, converse com um gastroenterologista para uma avaliação adequada. O diagnóstico e tratamento corretos fazem toda a diferença.